Poluição expelida pela Petroquímica Capuava causa doença autoimune em moradores da região

 

                                                     Refinaria Capuava (RECAP) em funcionamento desde 1954 (Wikipédia)


Em artigo publicado em 2012, a professora de Endocrinologia da faculdade de medicina do ABC e pesquisadora, Maria Ângela Zacarelli Marino, chegou a conclusão de que moradores próximos das redondezas da petroquímica capuava desenvolveram um novo tipo de doença: a tireoide química autoimune.
Administrados pela pesquisadora, vizinhos do polo industrial foram voluntários em estudos em um período de 15 anos. Entre 1989 e 2004, os moradores foram divididos entre dois grupos e submetidos a exames laboratoriais de sangue com dosagens dos hormônios tireoidianos. O grupo 1, os moradores mais próximos do Polo, eram 3.356. O grupo 2, residentes de área mais afastada, eram 2.950.

Em 1992, ainda no início dos estudos, cerca de 2,5% da população de moradores próximos da petroquímica tinham tireoide autoimune. Nove anos depois, enquanto o grupo 2 apresentava crescimento de casos pouco significativo, o grupo 1 teve uma taxa de 57,6% de aumento. “O estudo abriu caminho para uma nova área de pesquisas sobre a qualidade do ar em regiões subjacentes às indústrias de grande porte. A poluição pode ser o fator desencadeante para formação de anticorpos antitireoideanos, substâncias que agridem a glândula tireoide, ocasionando a tireoidite crônica autoimune. Os poluentes funcionariam como gatilho para desencadear o problema”, afirma a pesquisadora em entrevista.







“Comprovei empiricamente que a poluição do ar associada ao Complexo Petroquímico de Capuava é um importante fator ambiental, que contribui para o desenvolvimento do hipotireoidismo primário na população que reside nas proximidades dessa área industrial”.


Maria Ângela Zacarelli Marino em seu escritório (acervo pessoal)


Mapeamento da Poluição Atmosférica no entorno do Polo Petroquímico de Capuava, é o nome do trabalho expedido pelo Promotor de Justiça do Meio ambiente do município de Santo André, Ministério Público do estado de São Paulo, aos pesquisadores da Universidade de São Paulo e Faculdade de Medicina do ABC. O estudo, encerrado em 2017, chega a conclusão de que a refinaria compartilhada pelos municípios de Mauá e Santo André, expele elementos e compostos químicos com potencial de promover graves danos à saúde humana.


Imagem via satélite do complexo. Os pontos negros mostram a localização das tochas que expelem produtos químicos na atmosfera



Fundada em 1954, a Refinaria de Capuava (Recap), obteve crescimento geográfico substancial quando incorporada à Petrobrás, em 1974. Hoje, o complexo industrial ocupa 3,7 km², por todos os lados, espremida por moradias.
Síndica do conjunto habitacional vizinho à refinaria, Janaína afirma que “À noite é pior, porque ligam a 'chama piloto' para o refino dos químicos e aquela chama ali chega a 20 metros de altura. Chaga a iluminar todos os prédios.”, termina apontando para a maior das tochas.





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